sábado, 3 de setembro de 2011

Entenda a Relação entre Filosofia e Sexo...

Através dos tempos, de uma maneira geral, os filósofos manifestaram desinteresse pela sexualidade humana. É certo que Platão, em alguns diálogos, se debruçou sobre o tema, mas os mitos e fábulas que nos legou, embora interessantes, não deixam de revelar uma abordagem pouco séria e superficial.      Só muitos séculos depois, mais precisamente no século XIX, um outro pensador, por sinal um ícone da misoginia filosófica, revelou um interesse direto e tratou a sexualidade humana de modo sistemático em “A Metafísica do Amor Sexual”, publicado em 1844.
Para entendermos a depreciação do sexo pelos filósofos, visível nas suas omissões, temos de lembrar que o ideal de vida filosófico é o ideal de vida pela razão, entendida como uma faculdade pura, divorciada da própria afectividade. O desejo sexual é visto como uma paixão que perturba a capacidade racional, como um estorvo que impede ou pelo menos prejudica a ascese intelectual. Libertar-se das paixões do corpo e especialmente, pela sua premência e excesso, da paixão sexual é o desiderato dos filósofos.
A grande maioria dos filósofos nem sequer casou; as mulheres dos outros, dos que casaram, ou são completamente desconhecidas ou viraram anedotas, como é o caso da irritante e rabugenta Xantipa - o protótipo do que uma esposa não deveria ser - que o bom e paciente Sócrates “evitava”, preferindo-lhe a estimulante companhia do belo e inteligente Alcibíades. Na Idade Média, com uma filosofia serva da teologia, não surpreende que os Doutores da Igreja se limitassem a aceitar o sexo como um mal necessário, reduzido à dimensão heterossexual genital e legitimado apenas no casamento monogâmico.                                                                               O racionalismo moderno libertou-se, pelo menos formalmente, da tradição religiosa, mas na questão sexual mostrou-se muito pouco moderno. Os grandes filósofos da época, Descartes, Espinosa, Leibniz, Hume, Kant, Schopenhauer, Nietzche, não casaram e alguns levaram vidas sexuais paupérrimas, como foram os casos mais flagrantes de Kant e Nietzsche.
A este aparente desinteresse dos filósofos pela sexualidade não deve ser alheia a persistente e dominante concepção dualista da natureza humana, que a grande maioria defendeu. De acordo com esta concepção, o ser humano é uma dualidade: corpo e alma, o corpo é material e perecível, a alma espiritual e eterna; depreciar o corpo e exaltar o espírito é apenas e tão-somente o corolário necessário desta maneira de entender a natureza humana; como a sexualidade tem uma nítida dimensão física, foi apenas fácil e natural esquecer completamente a sua outra dimensão e desvalorizá-la, considerando-a, no mínimo, um elemento perturbador para a vida do espírito. 

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